domingo, 5 de julho de 2009

Ausência do tempo

Às seis horas da tarde, quando no mais imprevisível, entre carros desesperados, motos desgovernadas e pessoas viciadas em comprimidos, a rua se abriu num vazio completo para mim. Não havia som, não havia imagem, não havia ninguém. Por mais que cerrasse um pouco meus olhos e tentasse enxergar ao longe nada se aparecia. A cidade havia feito um desafio. Eu e ela estávamos no vazio.

Neste momento me senti ao mesmo tempo em êxtase e com medo. Havia algo que me fazia dono de todo o universo sob meus pés e que ao mesmo tempo me tirava tudo. Pensei na absoluta solidão em que motos desgovernadas, pessoas viciadas em comprimidos e carros desgovernados passam cada um de seus minutos.

Vi, como em uma visão, o vazio em que os bêbados soturnos mergulham. O desprezo com que quentes corpos promíscuos trocam suor e corações secos trocam verdades. Vi novamente a esperança ausente no olhar de uma criança que havia passado por mim semanas atrás. Lembrei de uma voz subliminarmente clamando socorro para mim e não atendi o celular. Aquele silêncio dizia que o mundo estava cheio de vazio.

Mas num lampejo, outra moto atravessou minha frente. Uma buzina passou ao meu lado como um raio. Um viciado em comprimidos deixou um frasco cair quando atravessava a rua e quase o atropelei. Tudo estava igual. Voltei para casa, liguei o chuveiro e deitei no sofá para assistir tv.

3 comentários:

  1. É meu amigo, o dia que descobrir, como fugir deste vazio, passe-me a formula!

    Num mundo onde podemos confiar absolutamente em no maximo 2 ou 3 pessoas, se sentir sozinho é extremamente normal, porém nenhum pouco agradavel!

    E qdo isso voltar a acontecer, atenda hora que o celular tocar, pode não ser um desesperado...pode ser um amigo, convidando para uma "Rakenem" no bar da esquina!

    asokakaoaka

    abraços meu caro,

    e parabens pela maneira fascinante com que brincaste com as palavras!

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  2. sensacional, muito bom mesmo. bjs.

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  3. Vazio....
    sem o que é se sentir meio rua...
    Vai ver é isso, estar sozinho é aquela última rua do bairro, que não tem nem luz, nem ninguem passando por lá...


    Não está sozinho não, tem mais gente sozinho junto! rs


    Beijo

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