domingo, 5 de julho de 2009

Ausência do tempo

Às seis horas da tarde, quando no mais imprevisível, entre carros desesperados, motos desgovernadas e pessoas viciadas em comprimidos, a rua se abriu num vazio completo para mim. Não havia som, não havia imagem, não havia ninguém. Por mais que cerrasse um pouco meus olhos e tentasse enxergar ao longe nada se aparecia. A cidade havia feito um desafio. Eu e ela estávamos no vazio.

Neste momento me senti ao mesmo tempo em êxtase e com medo. Havia algo que me fazia dono de todo o universo sob meus pés e que ao mesmo tempo me tirava tudo. Pensei na absoluta solidão em que motos desgovernadas, pessoas viciadas em comprimidos e carros desgovernados passam cada um de seus minutos.

Vi, como em uma visão, o vazio em que os bêbados soturnos mergulham. O desprezo com que quentes corpos promíscuos trocam suor e corações secos trocam verdades. Vi novamente a esperança ausente no olhar de uma criança que havia passado por mim semanas atrás. Lembrei de uma voz subliminarmente clamando socorro para mim e não atendi o celular. Aquele silêncio dizia que o mundo estava cheio de vazio.

Mas num lampejo, outra moto atravessou minha frente. Uma buzina passou ao meu lado como um raio. Um viciado em comprimidos deixou um frasco cair quando atravessava a rua e quase o atropelei. Tudo estava igual. Voltei para casa, liguei o chuveiro e deitei no sofá para assistir tv.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Apenas o fim


Na última semana, o crítico Nelson Motta decretou em sua coluna o fim da música, assim como Fukuyama imaginou o fim da história. Para Motta, a última invenção sonora de fato foi o hip-hop, já com elementos da música eletrônica, para depois afundarmos em um breu criativo, um momento de saturação causado principalmente pela vulgarização e intoxicação da música pela internet. É fato que surgem músicos que não sabem nada de música, cantores que não sabem cantar sem correção eletrônica de voz e que faturam milhões em discos e shows.

Não só a internet, como já disse o crítico, é fator para esta estagnação. Nossa época passa por um momento interessante: surgem mais e mais intérpretes, alguns diferentes e, sim, com talento, ao passo que compositores surgem à conta gotas. Nomes contemporâneos ainda precisam fazer leituras e releituras de Noel Rosa. Os compositores “novos” já estão velhos. A grande maioria ultrapassa os 35 anos de idade – Zeca Baleiro, Lenine, Chico César, pra citar os mais conhecidos. Se lembrarmos que Chico Buarque venceu seu primeiro festival em 1966 aos 22 anos, podemos pensar que minha geração tem pouco a dizer. Ou pior, não estamos conseguindo encontrar a porta que aproxime linguagem e público.

Caetano, com sua Obra em Progresso e especificamente com o disco “Cê”, tem tentado falar a um público cada vez mais distante dele. Não que a obra de um dos mais geniais compositores nacionais esteja datada, mas é flagrante que o grande público hoje já não entende mais o que ele fala. Nem o que fala Gil, Chico, Vandré.

Recentemente fui a um show de um (famoso) grupo, em que na maioria de suas canções continham apenas dois versos: “tira o pé do chão” e “isso aqui está bom demais”. Vendo a platéia de milhares de pessoas, só podemos pensar que estamos ficando menos exigentes com aquilo que consumimos. Não só musicalmente, mas também menos criteriosos nas nossas relações amorosas, empregos, gostos e mesmo nas nossas vidas.

Por isso, talvez Nelson Motta tenha razão. Não só estamos saturados, mas como também temos pouco a dizer e não há espaço para compositores criativos que insistem em furar este sistema sufocante das grandes gravadoras que valoriza o comum, a música fácil de ser entendida e decorada. Aliás, pagamos centenas de reais para assistir à Madonna, mas relutamos em pagar R$10 para ver Caetano. Ou, como provavelmente deve ter esbravejado o compositor ao dizer que “alguma coisa está fora da ordem”.

Sim, realmente vivemos o fim da música. “Como reinventar o rock, a MPB, a bossa nova, o soul, o flamenco?” Disse o crítico, ao passo que faço uma outra pergunta: “De onde surgirá o Aníbal, o Guevara, o Genghis Khan do século XXI? Ou melhor, por onde ele andará?” Deve estar tentando postar seus trabalhos em um blog com dois ou três acessos mensais. E nestas indas e vindas, surge o incansável Erasmo Carlos para lembrar que “a rádio só toca o que o povo quer escutar, e o povo só escuta o que ouviu a rádio tocar”.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Um blog. Ao mesmo tempo tão difícil e tão fácil. E explico por quê. Detesto blog's. Detesto ler blog's. Mesmo eu, que no nomento escrevo para mídias virtuais de informação, não consigo me familiarizar com a idéia. Parece-me ainda distante a noção e que este suporte realmente valorize a proliferação de idéias e as fortaleça.

Reconheço que há dezenas de blog's importantes, com conteúdo de valor, mas há bilhões que não servem para nada. Porém, e como diz o outro, sempre tem um porém, sinto que quando conquistamos o direito de livre expressão, percebemos também que poucos tem algo a dizer.

Lembra daquele personagem da Praça é Nossa, "O Povo"? Quando o apresentador dizia: "grita povo! Agora é sua hora de ser ouvido! De dizer o que você quer!", o "povo" dizia em bem fraco e baixinho: "ahhhh...."

Mas eis que não vamos cuspir no prato que comemos. Eis-me aqui, meu caro. Mais um que também tem muito pouco a dizer. Mas tô me esforçando...